quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

5

JAKE
Depois do banho me tranquei no quarto com a Emily e nós ficamos comendo uma pizza esquentada no microondas que estava no forno. Emily parecia bem entretida com suas revistas de colorir e até esquecera que não estava mais em casa. Já eu não conseguia esquecer que estava naquela merda de casa de madeira, em outra cidade, com um tio de merda, e para piorar eu tinha ficado com tanta raiva dele que fui descontar na cama velha e acabei quebrando ela. Agora teríamos que dormir num colchão no chão. Nesses momentos de estresse que eu sentia falta da Michele, mas ela estava a quilômetros de distância. Eu nãoia virar um tarado feito o meu tio, que humilhação.
Levei um susto quando do nada Emily pulou no meu colo.
- Opa!
Ela riu e me abraçou.
- Você está feliz? - perguntei.
Emily fez que sim com a cabeça. Aquel quarto fechado e nós dois abraçados era como ter um refúgio. Emy sempre fora a minha família e agora eu tinha o dever de cuidar dela, coisa que minha mãe não fizera no último ano.
- O que foi? - perguntou Emily, passando a mão no meu rosto.
- Tá tudo bem Emy. - eu beijei a testa dela. - Em breve vamos ter a nossa casa de volta, e nossa mãe vai melhorar. Vamos sair desse lugar imundo.
Me encostei na parede e fiquei olhando a lua pela janela, acariciando os cabelos da Emily, pensando em muitos porquês. Porque meu pai fugira com uma vadia? Porque minha mãe era uma alcoolatra? Porquê eu tinha uma irmãnzinha para cuidar quando ninguém cuidava de mim? Porquê eu tinah que ter mudado para essa porra de cidade? Porque meu tio tinha que ser um merda? Realmente, não podia ficar pior.
- JAKE! - eu ouvi um berro vindo lá debaixo.
- O que aconteceu? - perguntou Emily, assustada.
- JAKE! - meu tio berrou outra vez, impaciente.
- Não aconteceu nada, fica aqui que eu já volto. - eu tentei tranquilizá-la e desci para a sala.
Charlie estava sentado de frente à televisão, assistindo ao que parecia ser um jogo de futebol. Ele estava com aquela enorme barriga de fora, os cabelos ralos despenteados e a cara amassada, mastigando alguma coisa.
- Senta aê. - ele apontou para o outro sofá, sem tirar os olhos da televisão.
Me aproximei lentamente e sentei. O sofá afundou.
Ele ficou vendo a tv. Quase foi gol. Fiquei esperando, não me interessava por futebol.
- Então... ?
- Que que foi? - perguntou ele.
Fiquei confuso.
- Você que me chamou aqui.
- Hmm. - Charlie me ignorou e continou a assitir à televisão - Tsc tsc... esses times de hoje em dia estão cada vez piores, parece que agora contratam jogadores pela aparência. Bando de frutinhas, sabe como é.
Fiquei mais confuso ainda. Não disse nada.
Charlie respirou fundo.
- Foi mal por hoje cedo, pelo empurrão, eu não estava muito bem sabe? - ele começou a falar - É que isso fode um pouco com a cabeça. Quero dizer, sempre fui só eu, nunca tive que cuidar de ninguém. E saber que minha irmãnzinha chegou a esse ponto, sabe, de ser internada. Agora tenho que cuidar de vocês, eu não sei fazer isso,  sei viver apenas do meu jeito.
Arregalei os olhos. Eu não esperava por isso. Assim como eu, Charlie tinha que cuidar de alguém quando ninguém cuidava dele, e ele também tinha uma irmãnzinha, a minha mãe, que estava internada nesse momento.
- Eu... eu não sei o que dizer.
- Não é pra você dizer nada. - Charlie voltou ao normal - Eu só precisava tirar esse peso da minha consciência. As regras continuam as mesmas. Agora pega uma cerveja pra mim na geladeira e sobre para o seu quarto, anda.
- Eu não vou pegar nada para ninguém. - Deixei isso claro, ficando de pé. Fui para a cozinha, peguei uma latinha e comecei a subir a escada.
- Aonde você pensa que vai com isso? - resmungou Charlie.
- Pro quarto. - respondi.
- Essa cerveja é minha. - ele começou a ficar irritado.
- Eu sei. - dei as costas para ele e continuei a subir a escada. Isso até uma latinha vazia e amassada quase acertar minha nuca.
Parei onde estava. Olhei fuzilante para Charlie, que estava em pé me olhando, o controle em outra mão, pronto para ser arremessado também. Abri a latinha de cerveja dele e dei um bom gole. Depois o olhei, abaixei, peguei a latinha amassada e a mostrei.
- Se isso aqui quase me acertar mais uma vez eu juro que sou capaz de me quimar ou deixar um roxo na Emily, ligar para o conselho tutelar e contar as coisas horríveis que você tem feito com agente. Então, se eu fosse você, não tentaria pagar de machão comigo.
Charlie ficou me olhando surpreso. Me mantive firme, retribuindo o olhar friamente.
- Pode deixar que eu pego a minha cerveja. - disse ele, a contragosto - E você, depois que tomar essa, pode ir dormir porquê amanhã é o seu primeiro dia de aula.
Eu abri um largo sorriso.
- Boa noite tio.

terça-feira, 16 de agosto de 2011


ANNA

Bem-vindo à minha rotina matinal: acordar, banho, roupa, maquiagem, cabelo, café da manhã - sempre com frutas e sucos - e escola, tudo ao som de Britney Spears, é claro. Eu já falei que eu amo a Britney? A Britney é tudo gente! Só quando ela ficou careca que eu fiquei com um pouco de medo, mas tá valendo.
A escola, Fox High, fica quase ao lado da minha casa. É uma escola pública simples, mas que tenta ser organizada. Eu gostava dela. Estudo lá desde os 7 anos de idade, ou seja, passei a minha vida toda entre as quatro paredes da sala. É, admito, muitas vezes eu não ia lá pra estudar. É que Fox High tem uma certa tendência pra ter gente gostosa. Também gosto de lá porque foi lá que me tornei quem sou: a líder de torcida mais popular que aquela escola já teve. Se a invejosa da Pandora estivesse aqui ela diria que faltara eu acrescentar vadia, mas nem importa, é tudo inveja.
Sabe, eu não entendo porque a Panda tem tanta inveja de mim. Acho que foi depois que eu comecei a namorar o Dimitri Swann. Claro, óbvio que toooooodos do colégio ficaram com inveja. Imagina: eu, a pop, namorar o gatão capitão do time de futebol!
Anyway, logo na entrada vi minhas amigas conversando em uma rodinha.
- Bom-dia! - eu cheguei animada.
Raquel me olhou com nojo de alto à baixo e me deu as costas. As garotas continuaram conversando, me ignorando.
- Ei gente, oi! - exclamei.
Elas continuaram me ignorando.
- Garotas, vocês não estão me vendo não?
Raquel revirou os olhos:
- Não falamos com atrizes de filme pornô barato.
Fiquei pasma:
- Como assim?
Elas perderam a paciência e sairam de perto de mim. Foda-se também, resolvi não insistir. Ainda mais depois que vi o Dimitri chegando. Ele tinha as costas largas. Amo costas largas!
- Você está bem? - perguntei.
- É, tô. - ele continuou andando e eu o acompanhei.
- Sabe, as meninas não querem mais falar comigo.
- E?
- Porque a imbecil da Pandora filmou o que fizemos ontem.
- E?
- Isso não me faz nojenta, faz ?
Eu fiquei ali parada, pensando sobre issom e Dimitri foi conversar com uns amigos dele ao futebol.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

3


PANDORA
Tomei o último gole da garrafa de vinho e joguei ela contra a parede. Ri igual idiota quando ela se espatifou. Eu não gostava muito de vinho, mas era a coisa mais barata que consegui comprar e depois de uns goles até que ele ficou bom. Uma garrafa não me deixaria bêbada, mas eu já estava de bom humor. Álcool me deixava feliz, eu esquecia os problemas e mandava eles se ferrarem. Era divertido tratá-los como se fossem pessoas.
Eu sai de baixo da arquibancada e vi uma velhinha. O que será que ela pensa ao ver uma jovem como eu? Cabelos castanhos, lápis preto nos olhos, muitas pulseiras e correntes, mini-saia jeans... é, eu era como um carrosel do inferno.
Liguei a câmera digital que eu tinha roubado de um cara no sábado passado e comecei a ver o vídeo que eu tinha gravado por ter entrado no vestiário dos caras do futebol: Anna chupando Dimitri. Ela era meso uma vadia. Nada contra as vadias, mas ela era uma inrrustida, fingida de aluna perfeita preocupada com as garotas da torcida. Ela estava mais aberta do que a camada de ozônio!
Fui andando vendo o vídeo enquanto os idiotas assistiam à final do campeonato interclasse de futebol. Foi quando ouvi os risos histéricos sas garotas da torcida: Anna e suas patricinhas. Quer dizer, patricinha merda nenhuma, elas assistiam Gossip Girl e achavam que estavam no Uper East Side.
Alguém cuspiu quando eu passei por elas. Eu parei e desliguei a câmera.
- Algum problema? - perguntei, desafiadora.
- Vocês ouviram alguma coisa garotas? - Anna se fez de tonta. Não precisou de muito esforço.
As meninas riram debilmente.
- Que deprimente. Além de vadias são burras. - provoquei.
- Vamos sair daqui garotas, não vamos nos rebaixar a ela, e eu ainda preciso visitar meu namorado na enfermaria.
Eu gargalhei:
- Namorado? Rebaixar? Pelo menos não sou eu que chupo jogadores só pra ele mentir que me namora.
Anna ficou vermelha.
- Acho que você já bebeu demais.
- Não, não, esperem. Vejam isso.
Eu liguei a câmera e coloquei play no vídeo da Anna com o Dimitri. Me diverti ao ver as expressões chocadas das patricinhas ao ver o vídeo. Claro que aquilo era tudo fingimento pois todas tinham fama de vadias.
- Eu não acredito! - exclamou uma delas.
- Como você pode fazer uma coisa dessas?
- Ai que nojo! - uma até fingiu ânsia. Acho que ela era a da garganta profunda que os garotos falavam.
Anna estava ficando furiosa.
- Sua... Sua...
Eu ergui a sobrancelha, debochando.
De repente Anna me deu um tapa. Foi muito rápido. Senti meu rosto esquentar, mas não senti dor. Louvado seja o vinho! Eu ri tonta e Anna me deu um empurrão. O sangue subiu e eu revidei com outro tapa. Não demorou muito pra nós duas estarmos no chão, rolando de um lado para o outro, se chutando, socando e puxando o cabelo uma da outra enquanto as outras meninas da torcida gritavam histéricas. Eu vi a Raquel pegar a câmera do chão e começar a ver o vídeo de novo. Vadia mesmo!

Meia hora depois eu estava sentada no banco da diretoria ao lado de Anna, que estava revoltada porque até hoje ela só tinha ido àquela sala para receber elogios e agora estava ali para receber uma advertência por ter brigado. A pode de líder santa de torcida tinha ido pro ralo.
- Pelo menos levaram a câmera embora. - comentei.
- Vai se ferrar. - Anna respondeu.
Eu ri.
De repente minha mãe, Rose, entrou na sala junto com o diretor e Auston, a mãe de Anna, uma rica que só fazia eventos beneficentes junto com a mãe de Dimitri.
- Aqui estão elas. - disse o diretor, desapontado. Com certeza a grande novidade ali era a Anna já que eu frequentava mais a diretoria do que a sala de aula.
- Oi Rose! - exclamei, dando um tchauzinho para a minha mãe. - Como estão as coisas lá no hospital?
Auston revirou os olhos:
- Que garota deprimente. Está na cara que a Anna não fez nada, foi essa aí que provocou. Ela deve ter só se defendido.
Eu fiquei surpresa com a declaração, pois imaginava que Auston ia tirar Anna dali pelos cabelos. Anna fez cara de santa. Talvez o status de garota modelo não estivesse totalmente perdido.
- Era só o que faltava, as duas brigaram juntas! - exclamou Rose.
- Minha filha não é nenhuma marginal pra sair brigando! - rebateu Auston, impaciente, olhando com desprezo para mim. - Ela está bêbada!
- Seu nariz! - exclamei de imediato - Se eu estivesse bêbada nós estaríamos transando agora em cima da mesa do diretor.
Todos ficaram em silêncio. Acho que eles ficaram admirados como eu falava coisas tensas com tanta tranquilidade. O diretor arregalou os olhos e eu vi que a calça dele instantaneamente ficou mais apertada ao imaginar a cena. É, o velhinho ainda estava na ativa.
- Francamente - bufou Auston para o diretor - O senhor está esperando o quê para expulsar essa delinquente daqui?
- Dobre a língua para falar da minha filha! - Rose se irritou - A única que pode chamá-la de delinquente sou eu.
Eu revirei os olhos e encostei na parede. Fechei os olhos e fiquei ali ouvindo as duas discutirem para descobrir quem era a mais santa: a bêbaba ou a vadia. Enquanto isso eu sabia que o diretor me imaginava transando com a mãe da Anna ao invés de encontrar uma solução para aquela situação. Era impressionante como todos homens eram iguais e só pensavam com a cabeça debaixo.

domingo, 14 de agosto de 2011

2


DIMITRI
Eu estava de frente ao espelho do vestiário me olhando. Que graça aquelas meninas viam em um branquelo de olhos azuis e um pouco de músculos? Eu ri da minha modéstia. Pelo menos isso me permitia pegar todas elas quando quisesse.
- Como está o meu capitão? - Anna chegou por trás de mim, beijando meu pescoço e enfiando a mão por dentro da minha camisa.
Eu me virei para olhá-la.
- É a final do campeonato escolar, estou nervoso. - lembrei a ela.
Anna me apertou contra a pia e sussurrou no meu ouvido:
- Eu posso fazer você se desistressar rapidinho.
Eu ri com vontade. Anna devia ter vindo do inferno só pra satisfazer meus desejos. Sem dúvidas ela era a líder de torcida mais vadia que a Fox High já tivera.
- Pode? Como? - eu entrei na brincadeira.
Anna pareceu gostar disso. Ela abriu minha calça com facilidade e começou a fazer o serviço devagar, e de vez em quando olhava para cima com aquela cara de safada de filme pornô. Eu olhei para o teto, sentindo o prazer. Ela era boa nisso. Quando olhei reto vi o Josh entrando no vestiário. Ele parou feito um bobo ao ver a cena. Eu ri pra ele e mostrei o dedo do meio. Ele fez uma imitação ridícula de Anna me chupando e entrou em uma cabine. Com certeza ele ia dar um tiro antes do jogo.
Ouvi o grito dos alunos eufóricos lá fora no campo, na mesma hora que gosei. Já devia estar na hora do jogo. Até que a loira conseguia me desistressar.
Enquanto ela lavava a boca, eu fechei a bermuda e o Josh saiu da cabine. Eu apontei para ele e depois para o meu pau:
- Depois é a sua vez!
Ele me mandou me ferrar e saiu.
- Com quem você estava falando? - quis saber Anna.
- Com você. Parabéns, foi ótima.
Ela sorriu e deu uma piscadela:
- Sempre que precisar me liga. - e saiu.
Eu sorri e voltei a me olhar no espelho. Era tão estranho ser o capitão do futebol, o mais popular do colégio e ainda sentir um vazio horrível. Será que eu estava reclamando de barriga cheia?
- Dimitri, você está atrasado! - o treinador veio me chamar.

O primeiro tempo mau tinha começado e eu já estava cansado. Isso era meio esquisito, eu havia treinado pra caramba minha resistência! O que estava acontecendo? Dante parecia ter percebido isso, por isso me empurrava toda hora durante a partida. Todos já sabiam que eu e ele nunca nos demos bem, afinal, os dois disputavam a vaga de único capitão do time de Fox High, que seria de quem ganhasse esse jogo. Em um momento me enfureci e joguei Dante no chão.
- Ei, o que está acontecendo? - Josh correu para apaziguar a briga.
Alguém me puxou pelo braço:
- O que você pensa que está fazendo?
Não respondi. Eu sentia o ódio tomar conta de mim. Dante estava me empurrando de propósito. Eu sempre achei um arrogante desdea primeira vez que o vi.
Algum babaca ajudou Dante a se levantar. O olhar fuzilante do mal encarado encontrou o meu.
- O que deu em você? - indagou Josh.
- Foi mal. - respondi de má vontade - Vamos continuar essa merda.
O jogo prosseguiu, mas depois de uns dez minutos eu não conseguia correr e a gritaria da torcida me deixava zonzo. Tudo estava em câmera lenta. Eu mal ouvia o treinador gritar comigo. Acho que o Dante tinha acabado de passar por mim com a bola e eu não fizera nada para impedir. É que estava tudo diferente, eu estava cansado, zonzo... Quando Dante fez o gol e o público gritou extasiado eu cai de joelhos no gramado e desmaiei.

Quando abri os olhos tinha um monte de gente ao meu redor. Acho que o jogo tinha parado mais uma vez.
- O que aconteceu?
- Ele está bem?
Que falatório infernal!
- Acorda ele, temos um jogo droga!
Josh me deu um tapa na cara que ao invés de me despertar fez tudo girar e eu vi borrões negros e roxos.

Abri os olhos outras vezes: Estava numa maca sendo tirado do campo, dentro de uma ambulância achando que a luz vermelha era um mini Papai Noel, na maca do hospital... Nossa, fez um barulhão quando abriram a porta com a maca, igual aos filmes. Foi muito louco!
Não sei quanto tempo passei desacordado, mas na última vez que despertei não abri os olhos. Ouvi dois médicos conversando ao meu lado e falavam sobre o resultado de alguns exames. Parecia que eu não tinha comido direito durante o dia e treinado demais, exigindo muito do meu corpo...
Gemi ao olhar para o lado. Nossa, que dor! Eu sorri ao abrir os olhos e ver a bunda da enfermeira... eu tinha uma tara por bundas, e nossa, ela estava tão sensual de costas para mim. Bendito seja quem inventou aquelas mini-saias brancas como uniforme! Eu mordi o lábio ao olhar aquele par de pernas. Aquilo é que eram coxas! Fiquei com vontade de mordê-las. Sem perceber eu já estava com as mãos dentro da calça, me acariciando... imaginando um milhão de coisas.
- Parece que ele já acordou. - disse um disse um dos médicos.
Eu parei, um pouco constrangido, e dei um sorrisinho pra ele:
- Eu ainda estou mal. Vê com a enfermeira se ela não pode me dar uma mãozinha?


sábado, 13 de agosto de 2011

1


JAKE
É tudo uma merda.
Cheguei à essa conclusão depois que vi minha mãe sendo levada como uma retardada para uma clínica de reabilitação. Por um lado até que foi bom, minha irmãnzinha Emily já estava ficando traumatizada de ver minha mãe vomitando, chegando em casa suja e as vezes com alguns roxos que ela nunca lembrava como tinham aparecido. Diz minha mãe que isso tudo é culpa do meu pai que a deixou abandonada com dois filhos e fugiu com a amante. Eu quero mais é que ele se ferre e pegue uma DST pra aprender a dar valor na vida e na família.
De qualquer modo, foi por isso que eu e a Emily fomos mandados pelo Conselho Tutelar para a casa do meu Tio Charlie,irmão daminha mãe. Não porquê ele será um ótimo tutor, mas por falta de opção mesmo. Minha mãe sempre foi excluída da família e ele era o parente mais próximo. Ela nunca falava de Charlie, eu só sabia que ele era aposentado e morava em Foxville, uma cidade à quatro horas de onde eu morava.
A única pessoa que se importou com a minha partida foi a Michele, minha melhor amiga, que às vezes eu dava uns amassos. Eu nunca amei ela, mas pelo menos eu tinha uma espécie de porto-seguro. Uma mãe bêbada e uma irmãnzinha podem te deixar muito estressado.
Estava chovendo um pouco quando chegamos em Foxville. Consultei o papel com o endereço do meu tio e vi que teria que pegar mais um ônibus. Charlie morava em uma casinha de madeira, simpática até. Levei um susto quando abri a porta: ele estava deitado de barriga pra cima no sofá e ao lado dele uma poça de vômito. A casa cheirava leite estragado.
- Que merda é essa? - eu disse.
Emily riu ao meu lado:
- Lar doce lar!
Revirei os olhos. Ela era bem irônica para uma garotinha de sete anos!
Deixei a mala na porta e fui chutar meu tio. Eu que não ia sujar minhas mãos com ele. O hipopótamo não acordou nem a pau, por isso desisti e fui com a Emily para o andar de cima. Tinha dois quartos e um banheiro entre eles. No quarto que eu ficaria só tinha uma cama de casal e um armário velho. Mais que merda! Teria que dividir a cama com a Emily.
- Você está estressado? - perguntou Emily.
- Estou. - respondi. Lembrei de um método muito rápido e eficaz para relaxar - Espera aqui Emily, eu vou no banheiro e já volto.

Depois que sai mais aliviado no banheiro, vi que não havia o que arrumar no quarto. Joguei as roupas nas gavetas e forrei a cama. Só deixei a janela bem aberta porque parecia que aquele quarto estava trancado há anos. Quem será que dormia ali?
Quando descemos para a cozinha o meu tio tinha caído do sofá para o chão, bem em cima do vômito. Aquilo me deu ânsia. Mandei a Emily pegar um desodorante pra jogar no ar enquanto eu ia fuçar na geladeira: Leite, cerveja, queijo, cerveja, presunto, cerveja... É, líquido não faltava. Acabei achando pão e fiz um sanduíche de presunto, e peguei o leite.
- Cadê a Emily? - me perguntei.
Coloquei os pratos em cima da bancada da cozinha e subi. Ela não estava no que seria o "nosso" quarto e sim no do meu tio. Entrei lá: o quarto estava exageradamente arrumado, parecia até que eu estava em outra casa. Mas havia pôsters de mulheres nuas nas paredes. Tinha uma camisinha no chão ao lado de uma cueca.
- Achei o desodorante. - disse Emily e eu fiquei aliviado por ela não ter confundido e pegando um vibrador sem querer.
- Vamos sair daqui. - eu a puxei pelo braço.
Dei de cara com o meu tio ao me virar. Ele cheirava vômito e urina!
- Você está podre. - eu deixei escapar.
Ele me olhou com desprezo, como se quem estivesse fedendo fosse eu.
- Você é o moleque?
- Hãn?
- O filho da Belatriz.
Fiz que sim com a cabeça.
- Ah sim...
Ele pensou um pouco sobre isso e depois me pegou pela gola da camisa e me jogou contra a parede. Coloquei a mão na cabeça ao sentir o baque.
- Mais que merda...
- Isso é pra você aprender a não entrar onde não foi convidado. A casa é minha, quem manda sou eu. Se estiver incomodado vai embora. Estamos entendidos?
Meu gemido foi um sim. Ele me sacudiu mais uma vez e entrou no seu quarto, batendo a porta. Emily estava assustada ao meu lado.
- Você está bem? - ela perguntou.
Levei a mão a cabeça mais uma vez:
- Tarado desgraçado!