sábado, 13 de agosto de 2011

1


JAKE
É tudo uma merda.
Cheguei à essa conclusão depois que vi minha mãe sendo levada como uma retardada para uma clínica de reabilitação. Por um lado até que foi bom, minha irmãnzinha Emily já estava ficando traumatizada de ver minha mãe vomitando, chegando em casa suja e as vezes com alguns roxos que ela nunca lembrava como tinham aparecido. Diz minha mãe que isso tudo é culpa do meu pai que a deixou abandonada com dois filhos e fugiu com a amante. Eu quero mais é que ele se ferre e pegue uma DST pra aprender a dar valor na vida e na família.
De qualquer modo, foi por isso que eu e a Emily fomos mandados pelo Conselho Tutelar para a casa do meu Tio Charlie,irmão daminha mãe. Não porquê ele será um ótimo tutor, mas por falta de opção mesmo. Minha mãe sempre foi excluída da família e ele era o parente mais próximo. Ela nunca falava de Charlie, eu só sabia que ele era aposentado e morava em Foxville, uma cidade à quatro horas de onde eu morava.
A única pessoa que se importou com a minha partida foi a Michele, minha melhor amiga, que às vezes eu dava uns amassos. Eu nunca amei ela, mas pelo menos eu tinha uma espécie de porto-seguro. Uma mãe bêbada e uma irmãnzinha podem te deixar muito estressado.
Estava chovendo um pouco quando chegamos em Foxville. Consultei o papel com o endereço do meu tio e vi que teria que pegar mais um ônibus. Charlie morava em uma casinha de madeira, simpática até. Levei um susto quando abri a porta: ele estava deitado de barriga pra cima no sofá e ao lado dele uma poça de vômito. A casa cheirava leite estragado.
- Que merda é essa? - eu disse.
Emily riu ao meu lado:
- Lar doce lar!
Revirei os olhos. Ela era bem irônica para uma garotinha de sete anos!
Deixei a mala na porta e fui chutar meu tio. Eu que não ia sujar minhas mãos com ele. O hipopótamo não acordou nem a pau, por isso desisti e fui com a Emily para o andar de cima. Tinha dois quartos e um banheiro entre eles. No quarto que eu ficaria só tinha uma cama de casal e um armário velho. Mais que merda! Teria que dividir a cama com a Emily.
- Você está estressado? - perguntou Emily.
- Estou. - respondi. Lembrei de um método muito rápido e eficaz para relaxar - Espera aqui Emily, eu vou no banheiro e já volto.

Depois que sai mais aliviado no banheiro, vi que não havia o que arrumar no quarto. Joguei as roupas nas gavetas e forrei a cama. Só deixei a janela bem aberta porque parecia que aquele quarto estava trancado há anos. Quem será que dormia ali?
Quando descemos para a cozinha o meu tio tinha caído do sofá para o chão, bem em cima do vômito. Aquilo me deu ânsia. Mandei a Emily pegar um desodorante pra jogar no ar enquanto eu ia fuçar na geladeira: Leite, cerveja, queijo, cerveja, presunto, cerveja... É, líquido não faltava. Acabei achando pão e fiz um sanduíche de presunto, e peguei o leite.
- Cadê a Emily? - me perguntei.
Coloquei os pratos em cima da bancada da cozinha e subi. Ela não estava no que seria o "nosso" quarto e sim no do meu tio. Entrei lá: o quarto estava exageradamente arrumado, parecia até que eu estava em outra casa. Mas havia pôsters de mulheres nuas nas paredes. Tinha uma camisinha no chão ao lado de uma cueca.
- Achei o desodorante. - disse Emily e eu fiquei aliviado por ela não ter confundido e pegando um vibrador sem querer.
- Vamos sair daqui. - eu a puxei pelo braço.
Dei de cara com o meu tio ao me virar. Ele cheirava vômito e urina!
- Você está podre. - eu deixei escapar.
Ele me olhou com desprezo, como se quem estivesse fedendo fosse eu.
- Você é o moleque?
- Hãn?
- O filho da Belatriz.
Fiz que sim com a cabeça.
- Ah sim...
Ele pensou um pouco sobre isso e depois me pegou pela gola da camisa e me jogou contra a parede. Coloquei a mão na cabeça ao sentir o baque.
- Mais que merda...
- Isso é pra você aprender a não entrar onde não foi convidado. A casa é minha, quem manda sou eu. Se estiver incomodado vai embora. Estamos entendidos?
Meu gemido foi um sim. Ele me sacudiu mais uma vez e entrou no seu quarto, batendo a porta. Emily estava assustada ao meu lado.
- Você está bem? - ela perguntou.
Levei a mão a cabeça mais uma vez:
- Tarado desgraçado!

Nenhum comentário:

Postar um comentário